1. Introdução

Imagine uma pequena empresa tecnológica em Coimbra, Portugal, reunida em torno de um portátil, a usar ferramentas potenciadas por inteligência artificial para analisar tendências de consumo no mercado americano. Ou visualize uma adega de terceira geração no Vale do Douro, com os seus proprietários a lançar nervosamente uma loja online para enviar garrafas para o Japão, competindo com marcas dez vezes maiores. Estas não são apenas histórias – são vislumbres do que as pequenas e médias empresas (PME) portuguesas podem alcançar quando a liderança audaz se alia à tecnologia certa. Mas, por cada PME que prospera no estrangeiro, dezenas vacilam, limitadas por orçamentos apertados, mal-entendidos culturais ou estratégias paradas nos anos 90.

Há mais de 20 anos que impulsiono a transformação de PME, liderando a expansão da Randstad Professionals e da Grafton em Portugal como Country Manager (2002-2008), prestando consultoria em liderança, estratégia e processos desde 2009 e moldando estratégias como membro do Conselho de Administração da MPG, uma PME de mobiliário de escritório, desde 2019. Este estudo não é mera teoria – é uma missão forjada nessas batalhas duramente conquistadas.

As PME portuguesas não são apenas negócios; são a espinha dorsal da nossa economia. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE, 2022), representam mais de 90% das empresas e empregam 70% da nossa força de trabalho. Contudo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2019) revela uma realidade crua: apenas 35% exportam, muito atrás dos 50% de Espanha ou dos 60% da Alemanha. Porquê isto importa? Porque internacionalizar-se pode significar mais empregos, ideias frescas e um país mais forte. O caminho é árduo – barreiras comerciais, os efeitos do Brexit ou pandemias súbitas ameaçam cada passo. Vou mostrar como a liderança estratégica, aliada à inovação digital, pode transformar estes desafios em oportunidades. Este estudo é sobre empreendedores reais cujas lutas inspiraram este foco. Ao entrelaçar estas experiências num estudo rigoroso, pretendo dotar as PME portuguesas de um plano claro para o sucesso global.

2. Foco da investigação

Esta investigação mergulha na gestão, focando-se na liderança estratégica, resiliência organizacional, desempenho e inovação digital na internacionalização das PME portuguesas. A liderança estratégica, como definida por Boal e Hooijberg (2000), não se resume a dar ordens – trata-se de criar uma visão, mobilizar recursos e manter equipas ágeis em meio ao caos. Para um dono de uma PME que sonha com o Brasil ou a China, é o elo que transforma ambição em ação. A inovação digital – inteligência artificial para insights de mercado, automação para cadeias de abastecimento ou comércio eletrónico para vendas – nivela o terreno, permitindo que pequenas empresas superem o seu peso (Nambisan et al., 2017). A resiliência significa recuperar de uma disputa comercial ou de um atraso logístico, enquanto o desempenho mede as vitórias: mais receitas, maior quota de mercado (Kaplan & Norton, 1992).

Porquê este foco? As PME portuguesas são motores económicos, mas o seu alcance global é limitado. Iniciativas governamentais como o Portugal 2030, com 23 mil milhões de euros para digitalização e competitividade, e os programas de exportação da AICEP sinalizam um impulso nacional – o meu estudo quer avivar essa chama. Passei anos nas trincheiras: liderei a Randstad Professionals e a Grafton em Portugal entre 2002 e 2008, prestei consultoria e formação a PME desde 2009 e defini estratégias na MPG desde 2019. Vi PME debaterem-se com manuais desatualizados e vencerem com jogadas ousadas. Esta investigação funde essa experiência com uma lacuna crítica, criando uma nova lente para as PME portuguesas.

3. Literatura e lacunas de investigação

A literatura académica sobre liderança estratégica e inovação digital oferece uma base, mas deixa lacunas que a minha investigação quer preencher, levantando uma questão central: Como pode a liderança estratégica usar a inovação digital para aumentar a resiliência e o desempenho das PME portuguesas na internacionalização, e porquê isto ainda não foi conectado? A teoria da liderança estratégica, enraizada em Hamel e Prahalad (1994) e refinada por Boal e Hooijberg (2000), destaca visão e adaptabilidade – cruciais para PME –, mas ignora o caos da internacionalização e o contexto português. Nambisan et al. (2017) sublinham o potencial da inovação digital (IA, blockchain), mas focam-se em grandes empresas, saltando as PME que aconselhei. Kraus et al. (2019) ligam ferramentas digitais ao empreendedorismo, mas o papel da liderança é um sussurro. Leonidou et al. (2018) exploram motivos globais (crescimento de mercado, concorrência), não resiliência ou tecnologia. Sutcliffe e Vogus (2003) e Kaplan e Norton (1992) definem resiliência e desempenho, mas omitem a liderança digital em pequenas empresas. Zahra e George (2002) e Denison et al. (2012) abordam capacidade de absorção e cultura, mas não o cenário das PME portuguesas. O meu trabalho na Randstad, expandindo uma marca em Portugal, revelou a vantagem da liderança – adaptabilidade e visão que as PME desejam no exterior. Ainda assim, falta um quadro unificado para as PME portuguesas, marcando a minha novidade: um roteiro que ninguém construiu.

4. Objetivos

Com base nestes insights, este estudo visa examinar como a liderança estratégica transforma a inovação digital em resultados tangíveis para PME que entram no palco global. Imagine um líder em Aveiro a identificar um nicho em França com análises de IA, depois a otimizar exportações com automação – é essa faísca que persigo. Explicarei como práticas como traçar uma visão ousada, dominar tecnologia ou construir adaptabilidade geram resultados como sobreviver a tarifas ou crescer em vendas. Vou analisar os mecanismos – a adoção de IA acelera a entrada no mercado? Como a destreza digital de um líder aumenta lucros? Explorarei também o que molda esta dança – tamanho da empresa, especificidades da indústria –, pois uma startup tecnológica enfrenta ventos diferentes de um sapateiro em São João da Madeira.

Esta investigação está ancorada em desafios práticos das PME, não em especulação teórica. Na Randstad, impulsionei uma marca por Portugal, apoiando-me em mudanças estratégicas que refletem o que as PME precisam no exterior. Na Católica Business School, durante dois anos, ensinei líderes a afiar o seu desempenho. No Conselho da MPG, estamos a criar estratégias para triplicar o peso das exportações – insights que trago aqui. Este estudo visa desenvolver um quadro que funda teoria e aplicações práticas, capacitando as PME para o sucesso global.

5. Questões de investigação

Para guiar esta exploração e encontrar respostas práticas, formulei três questões de investigação:

  1. Como a liderança estratégica influencia a internacionalização das PME portuguesas, e que papel desempenha a inovação digital neste processo?
  2. Que práticas de liderança potenciam mais eficazmente a resiliência e o desempenho através da inovação digital durante a expansão global?
  3. Até que ponto a adoção da inovação digital media a relação entre liderança estratégica e estes resultados organizacionais?
    Estas questões nascem de desafios práticos que enfrentei, não de noções abstratas – como uma startup portuguesa travada por métodos obsoletos ou um retalhista que prosperou com comércio eletrónico. Elas orientam esta investigação para oferecer soluções concretas às PME.

6. Novidade e fundamentação

Estas questões são terreno novo. Nenhum estudo que encontrei liga liderança estratégica, inovação digital, resiliência e desempenho num quadro único para PME portuguesas em expansão global. Boal e Hooijberg (2000) não abordam a internacionalização; Nambisan et al. (2017) ignoram PME; Kraus et al. (2019) esquivam-se à liderança; Leonidou et al. (2018) omitem resiliência e tecnologia. As minhas questões tecem estes fios numa nova tapeçaria, há muito necessária. Importam porque as PME são o sangue de Portugal – mas só 35% exportam (OCDE, 2019). Com o Portugal 2030 a injetar 23 mil milhões de euros em crescimento digital e competitivo, isto pode direcionar esse investimento onde conta.

A fundamentação é sólida – revistas listadas na ABS como Strategic Management Journal (Denison et al., 2012), Leadership Quarterly (Yukl, 2012) e Journal of Management (Barney, 1991) moldam a minha lente. Estudei-as, identificando onde falham para as PME portuguesas. Veja Denison et al. (2012) – provam que a cultura impulsiona a estratégia, mas não em pequenas empresas em expansão global. O meu trabalho constrói sobre isso, aventurando-se em águas inexploradas com um foco que espero ser visto como incisivo e audaz.

7. Metodologia

Este estudo adota um desenho de métodos mistos, combinando profundidade qualitativa com rigor quantitativo, para desvendar a interação complexa entre liderança estratégica, inovação digital, resiliência e desempenho na internacionalização das PME portuguesas. A fase qualitativa envolverá entrevistas semiestruturadas com 15-20 líderes de PME, selecionados intencionalmente de setores diversos – tecnologia (como startups de Coimbra), manufatura (exemplo, sapateiros de São João da Madeira) e agroalimentar (como adegas do Douro). Estes setores refletem o potencial de exportação e a variação na adoção digital, segundo a AICEP (2020). Perguntarei: Que ferramentas digitais (análises de IA, plataformas de comércio eletrónico) moldaram o seu avanço global? Como decisões de liderança – definir visão, assumir riscos – transformaram contratempos como disrupções na cadeia de abastecimento em vitórias? As entrevistas, de 60-90 minutos e em português, serão gravadas, transcritas e analisadas tematicamente com o NVivo, seguindo o quadro de Braun e Clarke (2006) para identificar padrões.

A fase quantitativa survey 200-300 PME, amostradas por seleção aleatória estratificada a partir do registo de empresas do INE (2022), visando exportadoras e não exportadoras para comparar o impacto da adoção digital. Adaptarei o Leadership Behavior Inventory de Yukl (2012) para medir práticas como visão estratégica e adaptabilidade, a escala de resiliência de Mallak (1998) para recuperação organizacional e o balanced scorecard de Kaplan e Norton (1992) para desempenho (crescimento de receitas, quota de mercado). Uma escala específica, inspirada em Nambisan et al. (2017), avaliará a adoção de inovação digital – focando ferramentas como análises de mercado por IA, blockchain para cadeias de abastecimento e plataformas de comércio eletrónico. Os dados serão analisados com modelagem de equações estruturais (SEM) em AMOS ou R, testando como a liderança influencia resultados diretamente e via inovação digital como mediadora. Este duplo enfoque reflete o meu trabalho na MPG, onde combinei insights de líderes com dados para triplicar metas de exportação, garantindo nuance humana e peso estatístico.

8. Conclusão

Este estudo inicia uma investigação mais profunda sobre como a liderança estratégica e a inovação digital fortalecem a resiliência e o desempenho global das PME portuguesas. Ao abordar lacunas na literatura, traça um caminho para líderes usarem estrategicamente ferramentas digitais contra desafios globais. As questões de investigação exploram como práticas de liderança transformam obstáculos em oportunidades, oferecendo insights práticos para líderes de PME com recursos limitados. Os resultados impulsionarão os objetivos digitais do Portugal 2030, destacando ferramentas-chave e orientando decisores políticos. Estudos futuros poderão examinar fatores específicos de cada indústria ou impactos a longo prazo. Ao unir teoria e prática, este trabalho pretende capacitar as PME portuguesas e avançar a scholarship em liderança. Com 20 anos a guiar e aconselhar empresas, espero moldar este campo, entregando um quadro que faça uma diferença duradoura – um que estou determinado a refinar como investigador e líder.

9. Referências

Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. (2020). Relatório anual 2020. https://www.portugalglobal.pt
Barney, J. (1991). Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, 17(1), 99-120. https://doi.org/10.1177/014920639101700108
Boal, K. B., & Hooijberg, R. (2000). Strategic leadership research: Moving on. Leadership Quarterly, 11(4), 515-549. https://doi.org/10.1016/S1048-9843(00)00057-6
Denison, D. R., Hooijberg, R., & Quinn, R. E. (2012). Leading culture change in global organizations: Aligning culture and strategy (1.ª ed.). Jossey-Bass.
Hamel, G., & Prahalad, C. K. (1994). Competing for the future. Harvard Business Review Press.
Instituto Nacional de Estatística. (2022). Estatísticas das empresas. https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes
Kaplan, R. S., & Norton, D. P. (1992). The balanced scorecard: Measures that drive performance. Harvard Business Review, 70(1), 71-79.
Kraus, S., Palmer, C., Kailer, N., Kallinger, F. L., & Spitzer, J. (2019). Digital entrepreneurship: A research agenda on new business models for the twenty-first century. International Journal of Entrepreneurial Behavior & Research, 25(2), 353-375. https://doi.org/10.1108/IJEBR-06-2018-0425
Leonidou, L. C., Katsikeas, C. S., Samiee, S., & Aykol, B. (2018). International marketing research: A state-of-the-art review and the way forward. In Advances in International Marketing (Vol. 29, pp. 3–33). Springer.
Mallak, L. (1998). Putting organizational resilience to work. Industrial Management, 40(6), 8–13.
Nambisan, S., Lyytinen, K., Majchrzak, A., & Song, M. (2017). Digital innovation management: Reinventing innovation management research in a digital world. MIS Quarterly, 41(1), 223-238.
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Sutcliffe, K. M., & Vogus, T. J. (2003). Organizing for resilience. In Positive Organizational Scholarship: Foundations of a New Discipline (pp. 94-110). Berrett-Koehler.
Yukl, G. (2012). Effective leadership behavior: What we know and what questions need more attention. Academy of Management Perspectives, 26(4), 66-85. https://doi.org/10.5465/amp.2012.0088
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